Existência ou não de planetas causa atrito entre cientistas
28/05/2015
Enquanto o público celebra o fato de que estamos muito perto de completar a marca de 2.000 planetas descobertos fora do Sistema Solar, cientistas travam uma batalha sobre a existência de alguns desses mundos –e da técnica que sugeriu sua existência.
A polêmica diz respeito aos planetas descobertos pelo método mais tradicional, responsável pelo primeiro achado do tipo, em 1995, e muitos outros desde então: a medição do bamboleio gravitacional da estrela-mãe causado pela presença de corpos menores ao seu redor.
Não é a mesma técnica explorada pelo satélite Kepler, da Nasa, que a essa altura já descobriu mais da metade de todos os exoplanetas conhecidos e faz as detecções ao medir pequenas reduções de brilho da estrela quando um planeta passa à sua frente.
Ainda assim, a técnica do bamboleio gravitacional –ou, em termos mais técnicos, a medição de velocidade radial– tem importância central no estudo dos exoplanetas, por permitir uma estimativa de sua massa. Os trânsitos planetários detectados pelo Kepler permitem estimar apenas o tamanho.
O ideal é sempre usar as duas estratégias de forma complementar –o que permite, além de uma detecção confirmar a outra, derivar a densidade dos planetas e ter uma ideia de sua composição.
Contudo, no fim do ano passado, uma equipe liderada pelo astrônomo Paul Robertson, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), balançou o barco em que estavam a maioria dos caçadores de exoplanetas.
Num artigo publicado na “Science”, seu grupo apontou que três dos planetas detectados por velocidade radial (mas sem trânsito), em torno da estrela anã vermelha Gliese 581, eram falsos positivos. Segundo sua análise, a atividade da estrela combinada à sua rotação criavam sinais “fantasmas”, que só pareciam ser planetas, mas não eram.
Podia ser apenas uma constatação pontual, não fosse um detalhe: Gliese 581 é uma das estrelas mais “calmas”, em termos de atividade, que se conhece. Ou seja, se Robertson tivesse razão, muitos dos sinais planetários detectados em estrelas mais ativas potencialmente eram falsos. Em essência, a maior parte dos planetas de porte similar ao da Terra detectados por velocidade radial podiam não existir.
REAÇÃO
Alguns cientistas que há anos se especializaram na análise dos dados colhidos por medição da velocidade radial reagiram de forma pouco simpática a Robertson.
Em 6 de março deste ano, Guillem Anglada-Escudé e Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, publicaram na “Science” um comentário técnico questionando o rigor estatístico da análise de Robertson.
O americano e seus colegas publicaram na mesma edição uma resposta, dizendo que Anglada-Escudé e companhia “ignoram aspectos da atividade estelar que apresentamos” e que mostrariam como surgem os sinais falsos.
Uma explicação possível para os atritos é que o grupo da Pensilvânia apontou que não existe uma superterra na zona habitável em torno da estrela de Kapteyn –um mundo que havia sido descoberto por Anglada-Escudé e Mikko Tuomi no ano passado.
O DESAFIO
O grande problema é saber se é possível separar o “ruído” produzido pela atividade estelar de sinais genuínos de planetas. “Um dos resultados interessantes da minha pesquisa –e um em que Anglada-Escudé e eu concordamos– é que o ruído magnético imposto pelas estrelas é um limite à detecção de superterras”, disse à Folha Robertson.
Enquanto cientistas de ambos os lados procuram novas técnicas estatísticas que permitam separar os planetas reais dos “fantasmas”, a polêmica deve continuar.
“Colher mais dados é provavelmente o único modo de resolver essa disputa de forma satisfatória para a comunidade inteira”, diz o cientista da Pensilvânia. Veremos quantos planetas de pequeno porte descobertos por velocidade radial resistirão a isso.
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