sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O QUE EXISTE É "O ACASO", MELHOR ASSIM.




Universo surgiu do nada e por acaso, diz astrofísico Lawrence Krauss

14 de janeiro de 2012


Em entrevista exclusiva ao Terra, astrofísico Lawrence Krauss defende que universo surgiu do nada e por acaso e sem ajuda divina. Foto: Ligia Hougland/Especial para Terra

Em entrevista exclusiva ao Terra, astrofísico Lawrence Krauss defende que universo surgiu do nada e por acaso e sem ajuda divina
Foto: Ligia Hougland/Especial para Terra

Ligia Hougland
Direto de Washington

Um dos mais badalados cientistas da atualidade, devido, principalmente, aos esforços em popularizar a ciência, fazendo com que as pessoas deixem a religião de lado e aprendam sobre as belezas de um universo acidental e sem propósito, o astrofísico americano-canadense Lawrence Krauss causou polêmica com o lançamento do livro A Universe From Nothing (Um Universo do Nada, em tradução livre). Segundo o autor, o universo aconteceu por acaso e veio do nada - algo instável e que sempre acaba reagindo, sem precisar de interferência divina.

Krauss, quem tem algumas obras publicadas no Brasil, como A física de Jornada nas Estrelas, já havia enfurecido grupos religiosos americanos quando realizou uma apresentação sobre a origem do universo - o material, que parou no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=7ImvlS8PLIo), já foi assistido por mais de um milhão de pessoas. Comentários acusando o astrofísico de querer acabar com Deus se multiplicaram na internet. Mas o autointitulado antiteista garante: essa era a intenção.

Em entrevista exclusiva ao Terra, em Washington, Krauss defende que um universo aleatório e uma vida sem supervisão divina proporcionam mais significado à existência. Confira a seguir a conversa com o cientista, que aborda a possibilidade de diversos universos serem resultantes de um nada com leis distintas da física.

Terra - De acordo com sua teoria, o universo é apenas um acidente que aconteceu sem a supervisão de um ser superior. A ideia de que estamos aqui por acaso não implica que a vida não tem um sentido maior?
Lawrence Krauss - Não há propósito evidente para o universo. A vida no nosso universo pode ser apenas um acidente. Podemos tentar entender como o universo foi criado, mas não temos como identificar um objetivo evidente. Mas isso não deve nos desolar. É motivo para sermos mais felizes. O propósito e o significado da nossa vida são criados por nós. Isso nos dá mais poder. Em vez de sermos governados por um ditador universal, como meu amigo Christopher Hitchens (famoso ateísta autor do best-seller Deus não é grande (Ediouro), que recente morreu de câncer) diria, criamos nosso próprio significado. Isso deve nos empolgar, pois dá mais sentindo a tudo que fazemos.

Terra - Você não acha que sua mensagem pode fazer com que muitas pessoas percam a vontade de viver, se acreditarem que não existe nada além desta vida, que não há um ser superior que se importa com elas e que não passamos de um acidente?
Krauss - Ao contrário, temos que tirar o máximo de proveito deste incrível acaso. Temos muita sorte de estarmos aqui, de termos a capacidade de pensar, experimentar o universo em toda a sua glória, poder entender até os seus primeiros momentos. Somos incrivelmente sortudos. Devemos explorar tudo que for possível, todas as aventuras que encontrarmos, intelectuais e de outras naturezas.

Terra - No seu novo livro, você fala em multiversos, ou seja, na existência de diversos universos passados, presentes e futuros, teorizando que talvez não existam leis universais da física e que as leis da física podem ser diferentes de acordo com cada universo. Como que o nada pode produzir resultados diferentes?
Krauss - Talvez não exista mesmo um conjunto universal de leis da física. No caso de multiversos, é muito possível que cada universo tenha leis diferentes. O fato de o nada poder produzir universos diferentes é, na verdade, bem simples. A mecânica quântica nos mostra que tudo está acontecendo ao mesmo tempo e que todas as possibilidades são realizadas. Mesmo em um espaço vazio, há partículas saindo do nada, constantemente. Não apenas isso acontece, como é vital. Na verdade, a maior parte da massa corporal de uma pessoa é determinada pelas partículas que saltam, constantemente, para dentro e para fora do espaço, neste exato momento. A mecânica quântica nos diz que o nada vai, eventualmente, produzir algo. O nada é instável.

Terra - Qual é a probabilidade de estes multiversos estarem interagindo com o nosso universo?
Krauss - Há diversos tipos de multiversos. Uma possibilidade é que existem muitos universos tão desconectados de nós que nunca interagirão com o nosso universo. Nesse caso, nunca os conheceremos empiricamente, eles sempre estarão separados de nós. No caso da teoria das cordas (string theory, o termo em inglês mais usado), há a possibilidade da existência de outros universos literalmente a um milímetro do meu nariz, em outra dimensão. Nesse caso, é possível que algo que acontece em um universo pode impactar outro universo. Portanto, algumas coisas que vemos no nosso universo podem ser fatores aleatórios que estão acontecendo em outro universo.

Terra - Então, você não acredita mesmo em Deus?
Krauss - Considero presunçoso se dizer ateísta, pois não posso garantir que o universo não foi criado com um objetivo, apesar de não haver nenhuma evidência disso. Mas posso dizer que não gostaria de viver em um universo onde existe um Deus, um universo onde eu não passaria de um cordeiro, sem controle sobre a minha existência. Um universo no qual, no caso de algumas religiões, se você faz algo errado, você fica condenado pela eternidade. É um conceito ridículo e horrível. Prefiro viver em um universo onde eu conquisto um significado para a minha vida e uso minha cabeça para agir, em vez de ser mandado por um Deus que, por vezes, é muito vingativo.

QUANDO O SEGUNDO SOL CHEGAR






















Nasa descobre novos planetas que orbitam ao redor de dois sóis
Em Miami

12/01/2012
Uma equipe de astrônomos encontrou dois novos planetas que orbitam ao redor de dois sóis, um fenômeno que foi observado pela primeira vez na história em setembro do ano passado e que consolida a suspeita de que existem milhões deles na galáxia.

A Universidade da Flórida anunciou nesta quarta-feira a descoberta, da qual participaram alguns de seus astrônomos e que foi possível graças à análise dos dados obtidos pela missão Kepler, da Nasa.

A concepção artística mostra dois novos planetas que orbitam ao redor de dois sóis, como retratado no filme Star Wars. Os cientistas, que batizaram os planetas de Kepler-34b e Kepler-35b, afirmam que existem milhões deles nas galáxias. Eles orbitam ao redor de uma "estrela binária", um sistema estelar composto de duas estrelas que orbitam mutuamente ao redor de um centro de massas comum. Os planetas devem ser quentes demais para abrigar vida, acreditam os astrônos Lynette Cook/AP

Os cientistas batizaram os planetas de Kepler-34b e Kepler-35b. Ambos orbitam ao redor de uma "estrela binária", um sistema estelar composto de duas estrelas que orbitam mutuamente ao redor de um centro de massas comum.

"Embora a existência destes corpos, chamados de planetas circumbinários, tenha sido prevista há muito tempo, era só uma teoria, até que a equipe descobriu o Kepler-16b em setembro de 2011", explicou a instituição em comunicado.

Kepler-16b foi batizado então como "Tatooine", em referência ao desértico planeta dos filmes "Guerras nas Estrelas", que tinha a peculiaridade de contar com dois sóis.

"Durante muito tempo tínhamos achado que esta classe de planetas era possível, mas foi muito difícil de detectar por diversas razões técnicas", explicou o professor associado de Astronomia da Universidade da Flórida, Eric Ford.

Ford acrescentou que a descoberta de Kepler-34b e Kepler-35b, que será publicada nesta quinta-feira na edição digital da revista "Nature", somado à de Kepler-16b em setembro, "demonstra que na galáxia há milhões de planetas orbitando duas estrelas".

Acredita-se que os dois planetas recém-descobertos são formados fundamentalmente por hidrogênio e que são quentes demais para abrigar vida. São dois gigantes de gás de muito pouca densidade, comparáveis em tamanho a Júpiter, mas com muito menos massa.

Kepler-34b é 24% menor que Júpiter, mas tem 78% menos massa, e pode completar uma órbita em 288 dias terrestres. Já Kepler-35b é 26% menor, tem uma massa 88% inferior e demora apenas 131 dias para dar uma volta completa em seus dois sóis.

"Os planetas circumbinários podem ter climas muito complexos durante cada ano alienígena, já que a distância entre o planeta e cada estrela muda significativamente durante cada período orbital", explicou Ford.

A missão Kepler, que começou em março de 2009, utiliza um telescópio para observar uma pequena porção da Via Láctea. Os astrônomos analisam os dados procedentes do telescópio e buscam aqueles que mostram um escurecimento periódico que indique que um planeta cruza a frente de sua estrela anfitriã.

O objetivo da missão é encontrar planetas do tamanho da Terra na zona habitável das órbitas das estrelas (onde um planeta pode ter água líquida em sua superfície).

"A maioria das estrelas similares ao Sol na galáxia não está sozinha, como o sol da Terra, mas tem um 'parceiro de dança' e forma um sistema binário", explicou a Universidade da Flórida.

De fato, a missão Kepler já identificou 2.165 estrelas binárias eclipsantes (que tapam uma a outra desde a perspectiva do telescópio) entre as mais de 160 mil estrelas observadas até o momento.